terça-feira, 28 de maio de 2013

Paulo Freire


Paulo Freire - Concepções de Escola, Ensino e Aprendizagem.

O educador e escritor brasileiro Paulo Freire foi e continua sendo referência na Educação brasileira. Dedicou-se plenamente em favor daqueles, especialmente jovens e adultos, encontrados à margem de uma vida digna, a fim de conscientizá-los a entender a situação em que viviam e agir sobre ela, de modo a alcançarem a liberdade. Esse compromisso social o tornou fonte de inspiração para educadores de gerações passadas, presentes e futuras.

Freire escreveu diversas obras, entre elas a “Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa”, dividida em três capítulos, os quais versam sobre o processo de formação do educador enquanto sujeito democrático, viabilizando a sua própria autonomia, como também a do educando.
Nessa obra, o pesquisador demonstra perceber a escola como um ambiente favorável à aprendizagem significativa, onde a relação professor-aluno acontece sempre com diálogo, valorizando o respeito mútuo. O espaço escolar deve sempre contribuir para a curiosidade, a criatividade, o raciocínio lógico, o estímulo à descoberta.

Paulo Freire acredita que a Educação é um processo humanizante, social, político, ético, histórico, cultural e afirma: “A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

A partir desse prisma, veremos a seguir algumas considerações que evidenciam os saberes necessários à prática docente:
1.    A pesquisa como meio de aperfeiçoamento docente contínuo, logo, através desta, o mesmo poderá tanto atualizar seus conhecimentos como também estimular seus alunos ao mesmo hábito; 
2.    O respeito aos saberes dos alunos, advindos das experiências anteriores à sala de aula, bem como suas realidades e necessidades; 
3.    O comprometimento com a educação de qualidade e igualitária, visando a inserção de indivíduos ainda marginalizados, numa sociedade desigual e excludente, pois, somente por meio dessa educação ideal, os envolvidos nesse processo terão acesso a inclusão na sociedade vigente; 
4.    A reflexão constante da teoria aliada à prática docente, como forma de melhorar a próxima e, sendo assim, não perder o verdadeiro sentido;
5.    A relação que se estabelece entre educador e educando é alicerçada pelo princípio do aprendizado mútuo, não havendo uma verdade absoluta trazida pelo professor para a sala de aula, uma vez que o aluno já traz consigo conhecimentos prévios e, consequentemente, sua visão de mundo. 
6.    A ética como elemento essencial na prática educativa, pois, segundo afirmação de Paulo Freire, “nos tornamos capazes de comparar, de intervir, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos” (FREIRE, 1996, p.16), em outras palavras, somos seres histórico-sociais e, portanto, nos colocamos pela ética, respeitando a capacidade de cada um.
Paulo Freire considera que o docente não deve se limitar ao ensinamento dos conteúdos, mas, sobretudo, ensinar a pensar, pois “pensar é não estarmos demasiado certos de nossas certezas”. (FREIRE, 1996, p. 28). O pensar de maneira adequada permite aos discentes se colocarem como sujeitos históricos, de modo a se conhecerem e ao mundo em que se inserem, intervindo sobre o mesmo, isto é, aprende-se a partir dos conhecimentos existentes e daqueles que serão ressignificados mais adiante.
Ensinar é, portanto, buscar, indagar, constatar, intervir, educar. O ato de ensinar exige conhecimento e, consequentemente, a troca de saberes. Pressupõe-se a presença de indivíduos que, juntos, trocarão experiências de novas informações adquiridas, respeitando também os saberes do senso comum e a capacidade criadora da cada um.
A verdadeira aprendizagem é aquela que transforma o sujeito, ou seja, os saberes ensinados são reconstruídos pelos educadores e educandos e, a partir dessa reconstrução, tornam-se autônomos, emancipados, questionadores, inacabados. “Nas condições de verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito do processo”. (FREIRE, 1996, p. 26).  Sob esse ponto de vista, percebemos a posição do educando como sujeito desse processo de reformulação do conhecimento, ao lado do educador. Ele passa a ser visto como agente e não mais como objeto, isto é, ambos fazem parte do processo ensino-aprendizagem numa concepção progressivista.

O referido autor considera ainda que: Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 21). Dito de outra forma, o docente deve transmitir o conhecimento buscando proporcionar ao discente a compreensão do que foi exposto e, a partir daí, permitir que o mesmo dê um novo sentido, quer dizer, a ideia é não dar respostas prontas, mas criar possibilidades, abrir oportunidades de indagações e sugestões, de raciocínio, de opiniões diversas etc. Jamais impedir as interações, as opiniões, os erros e os acertos, isto é, todos esses elementos permitirão que o aluno alcance o real conhecimento e continue a buscá-lo incessantemente de forma autônoma e prazerosa. 


Capítulo I – “Não há docência sem discência”



Neste capítulo Paulo Freire critica as formas de ensino tradicionais. Defende uma pedagogia fundada na ética, no respeito, na dignidade e na autonomia do educando. Questiona a função de educador autoritário e conservador, que não permite a participação dos educandos, suas curiosidades, insubmissões, e as suas vivências adquiridas no decorrer da vida e do seu meio social. Coloca vários argumentos em prol de um ensino mais democrático entre educadores e educandos, tendo em vista que somos seres inacabados, em constante aprendizado. Todo indivíduo seja educadores ou educandos devem estar abertos a curiosidade, ao aprendizado durante seu percurso de vida. Nesse sentido destaca a importância dos educadores e suas práticas na vida dos alunos. Atitudes, palavras, simples fatos advindos do professor poderão ficar marcados pelo resto da vida de uma pessoa contribuindo positivamente ou não para o seu desenvolvimento. Enfatiza a cautela quando o assunto é educar, pois educar é formar. Destaca a importância do educador e sua metodologia. Ressalta que o educador deve estar aberto também a aprender e trocar experiências com os educandos, pois a vivência dos educandos merece respeito. Em seus métodos atuais enfatiza que a curiosidade dos educandos é um aspecto positivo para o aprendizado, pois é um fator importante para o desenvolvimento da criticidade. O ensino dinâmico desenvolve a curiosidade sobre o fazer e o pensar sobre o fazer. Paulo Freire destaca a necessidade do respeito, compreensão, humildade e o equilíbrio das emoções entre educadores e educandos em seus métodos de ensino.

Capítulo II– “Ensinar não é transferir conhecimento”
No capítulo 2 Paulo Freire aborda a questão da ética entre educador e educando. Discursa sobre a prática de ensinar. “Ensinar não é transferir conhecimento”, é respeitar a autonomia e a identidade do educando. Para passar conhecimento o educador deve estar envolvido com ele, para envolver os educandos. Deve estimular os alunos a desenvolverem seus pensamentos. Fornece argumentos mostrando que desta forma é possível o desenvolvimento da crítica. Ele se volta para a teoria do pensar certo. Constata as diferenças de forma de tratamento às pessoas em relação ao seu nível social. Educar é também respeitar as diferenças sem discriminação, pois esta é imoral, nega radicalmente a democracia e fere a dignidade do ser humano. Qualquer forma de discriminação deve ser rejeitada. Aborda alguns conceitos que são necessários para o desempenho do bom ensino tendo por consequência maior aproveitamento no aprendizado. A ética, o bom senso, a responsabilidade, a coerência, a humildade, a tolerância são qualidades de um bom educador. Ele também aborda a questão do professor defender seus direitos e exigir condições para exercer sua docência, pois dessa forma estará exercendo sua ética e respeito por si mesmo e pelos alunos.
Capítulo III – “Ensinar é uma especificidade humana”
No capítulo 3 Paulo Freire aborda o tema da autoridade do educador. É muito importante a segurança e o conhecimento do professor para se fazer respeitado. Distingue a autoridade docente democrática da autoridade docente mandonista. Protesta em relação à minimização da população mais carente quanto à imposição de colocá-los em situações ditas como fatalísticamente imutáveis pela sociedade mais favorecida, com o objetivo de obter alienação, resignação e conformismo. Traça argumentos a favor da recriação de uma sociedade menos injusta e mais humana. Aponta que o professor exerce uma grande importância para que haja um movimento de mudança social. Delineia algumas atitudes de atuação do professor em sala de aula que podem fazer florescer uma nova consciência aos futuros educandos. Mostra que há necessidade de decisão, ruptura e escolhas para alcançar os objetivos. Como professor critico impõem a decência e a ética como fatores qualitativos para obter o respeito dos alunos , e estes acompanhá-los. Os professores têm uma séria responsabilidade social e democrática. Estes devem abstrair-se da sua ignorância para escutar os educandos, sem tolí-los. Indica que há uma necessidade de mudanças na postura dos profissionais para enfim colaborar com a melhoria de condições e qualidade de vida, e assim desarticular qualquer forma de discriminação e injustiça, pois a educação é uma especificidade humana que intervém no mundo. Traça aspectos necessários aos educadores para dar oportunidade aos educandos de desenvolverem sua criatividade, o senso de crítica, respeito, e liberdade. Demonstra que a pedagogia da autonomia deve estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e responsabilidade. Critica as atividades consideradas anti- humanistas. Discute também sobre a intervenção da globalização que vem robustecendo a riqueza de uns poucos e verticalizando a pobreza de milhões. A preocupação com o lucro deixa a desejar as questões de ética e solidariedade humanas. Inclusive Paulo Freire cita que o desemprego no mundo não é uma fatalidade como muitos querem que acreditemos e sim o resultado de uma globalização da economia e de avanços tecnológicos, deixando de ser algo a serviço e bem estar do homem.
A obra de Paulo Freire Pedagogia da autonomia pode ser base de conhecimento para a vida. É um livro de conteúdo valioso que muito nos ensina.
Nas práticas educacionais faz-se útil esse conhecimento. Como pedagogos temos que partir do principio que somos seres incompletos, que precisamos estar em busca de novos conhecimentos, sejam eles técnicos, práticos ou através das pessoas que convivemos ou que passam por nosso caminho. Para sermos respeitados temos que ter segurança no conhecimento. Pedagogo é uma profissão que está atrelada a um conjunto de práticas sociais e éticas ligadas aos seres humanos, na maioria das vezes em situações de fragilidade física e/ou emocional. Dessa forma necessitamos de segurança no conhecimento que adquirimos para passar confiança àqueles que de nós necessitam. O pedagogo (a) confiante no que faz traz segurança àqueles que cuidam e administra.
Além de todo o conhecimento técnico científico, o bom pedagogo deve saber administrar sua equipe de forma democrática com autonomia e autoridade respeitando as vivências adquiridas de sua equipe como um todo e individualmente.
A pedagogia também está envolvida com aspectos econômicos-sociaisculturais, por isso é necessária uma boa conscientização desse profissional para a obtenção de resultados positivos a serviço do bem estar do Homem. Deve abster-se de qualquer forma de discriminação sendo um ser neutro nessa particularidade, tratando todos com igualdade, pois , está centrada na clientela. Por esse motivo faz-se necessário que todos sejam aliados na luta por uma assistência de qualidade e acessível a toda população. Educação é um direito de todos.
Podemos concluir que esta obra se aplica as práticas docentes e os métodos didáticos dentro e fora da escola, analisa imparcialmente as questões professor e aluno, conteúdo disciplinares, vivencia comunitária e o papel da família no processo pedagógico, posicionando-se de forma coerente. Não podemos deixar de reconhecer que além da riqueza intelectual de idéias que serão à base de muitos diálogos e reflexões. É de fato um roteiro que de forma muito simples ensina o professor a ensinar, pois ensinar não deve ser apenas transferência de conteúdos, mas um ato de respeito ao próximo, com sua bagagem e 
Bibliografia
FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
Pesquisa web (Biografia do autor) http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espacoeducar/ensino-fundamental/educ-jovens-adultos/artigos/biografia.pdf



Biografia

Nasceu no dia 19 de setembro de 1921, na Estrada do Encanamento, no bairro Casa Amarela, em Recife, Pernambuco.  

Era de uma família de classe média. Seu pai, Joaquim Temístocles Freire, era oficial da polícia militar de Pernambuco e sua mãe, Edeltrudes Neves Freire, fazia trabalhos domésticos, bordava e tocava piano. Além de Paulo, juntos tiveram Stela, Armando e Temístocles.
Aprendeu a ler com a mãe e o pai, escrevendo, com gravetos de mangueiras, na terra da casa onde ele tinha nascido.
A crise financeira de 1929 teve uma repercussão muito forte na vida de Paulo Freire, fazendo sua família deixar a casa em Recife e partir para Jaboatão dos Guararapes, a 18 Km de Recife, tentando, em vão, fugir da pobreza.
Em Jaboatão dos Guararapes, Paulo Freire completou os primeiros anos dos seus estudos e fez-se necessária a sua ida até Recife, para que pudesse continuar estudando. Sua mãe, então viúva e responsável única pela criação dos filhos, voltou a Recife e buscou para Paulo Freire uma bolsa de estudos nos colégios da cidade, até chegar ao Colégio Osvaldo Cruz, de Aluízio Araújo.
No Colégio Osvaldo Cruz, Paulo Freire reiniciou, aos 16 anos, os estudos no 2º ano do Ginásio, o equivalente ao 7º ano do Ensino Fundamental dos dias atuais.
Começou a trabalhar na mesma escola em que estudara em Recife, o Colégio Osvaldo Cruz, dando aulas de Português. E, como professor de Português dessa escola, Paulo Freire conheceu Elza Maia Costa Oliveira, sua esposa por mais de 40 anos. Eles se casaram em 1944 e tiveram 5 filhos.  
Cursou Direito na Universidade do Recife, mas optou por não exercer a profissão. Ao invés disso, dedicou-se à alfabetização de adultos e se tornou um ícone na área da educação popular e um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial.
Depois da desistência da carreira em Direito, foi convidado a trabalhar no SESI de Recife e inovou as práticas de ensino, ao trazer recortes de jornal sobre assuntos peculiares como salário e greve para a discussão com os operários.
Em 1958, num congresso de educação de adultos, convocado pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Paulo Freire apresentou sua ideia de que o analfabeto não era o problema e alfabetizar não era a solução. Para ele, o problema era a miséria da população.
Criou-se em Recife, em 1960, o MCP – Movimento de Cultura Popular – e, nesse âmbito, Paulo Freire desenvolveu o seu método de alfabetização para adultos. Como convidado do Serviço de Extensão Cultural da Universidade de Recife, sistematizou uma experiência de alfabetização, realizada em Angicos, uma pequena cidade no sertão do Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias.

Com o golpe de estado de 31 de março de 1964, Paulo Freire foi exilado e ficou fora do Brasil durante todo o regime militar. Esteve em muitos países do mundo, como Bolívia, Chile, Suíça e alguns países da África, nunca deixando de desenvolver suas ideias e de escrever seus livros.
Durante o período em que viveu no Chile, Paulo Freire publicou, em 1967, seu primeiro livro no Brasil – Educação como Prática da Liberdade.
Em 1968, Paulo Freire publicou, em várias línguas, seu livro mais conhecido – A Pedagogia do Oprimido. Esse livro foi proibido no Brasil até o ano de 1974 em razão da ditadura militar.
Por causa das boas críticas sobre o livro Educação como Prática da Liberdade, Freire foi convidado para ser professor visitante da Universidade de Harvard em 1969.
Retornou ao Brasil em 1979 e procurou revigorar e modificar suas ideias. Em 1980, filiou-se ao PT. Após a morte de Elza em 1986, viveu um período difícil e, gradativamente, voltou à vida, até que se casou com Ana Maria Araújo Freire, no momento sua orientanda no projeto de mestrado da PUC-SP.
Com a vitória do seu partido nas eleições municipais paulistas em 1988, Paulo Freire foi nomeado Secretário de Educação da cidade de São Paulo e ocupou esse cargo de 1989 até 1991. Durante esse período, Freire criou o MOVA – Movimento de Alfabetização, seu objetivo era voltado para a Educação de Jovens e Adultos.
Faleceu em 2 de maio de 1997, em São Paulo.

Em 13 de abril de 2012, foi sancionada a lei 12.612 que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.
Foi o brasileiro mais homenageado da história: ganhou 41 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford.
Principais Obras:
Educação como prática da liberdade. Introdução de Francisco C. Weffort. Rio de Janeiro: Paz e Terra, (19 ed., 1989, 150 p).
A importância do ato de ler (em três artigos que se completam). Prefácio de Antonio Joaquim Severino. São Paulo: Cortez/ Autores Associados. (26. ed., 1991). 96 p. (Coleção polêmica do nosso tempo).
Pedagogia do oprimido. New York: Herder & Herder, 1970 (manuscrito em português de 1968). Publicado com Prefácio de Ernani Maria Fiori. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 218 p., (23 ed., 1994, 184 p.).
Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (3 ed. 1994), 245 p
Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra,(1996.).

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